Journaling

Sendo eu dos anos 80, a minha memória está cheia de recordações daqueles diários, tipicamente em tons de rosa, recheados de folhas coloridas e perfumadas, fechados a cadeado. Era um presente muito oferecido a meninas entre os 8 e os 12 anos, para se iniciarem no “processamento” das emoções e desabafos, que desejavam manter em segredo de todos. Lembro-me, com carinho, de como cuidava do meu primeiro diário. Escrevia com a caneta de tinta mais brilhante, apercebendo-me depois que esborratava as páginas seguintes. Colava bilhetinhos, autocolantes, imagens… Colocava naquelas páginas os meus desejos, os meus anseios, as minhas dúvidas e apelos ao Universo. Fechava-o e escondia-o na parte de trás da gaveta da mesa de cabeceira, longe dos olhares curiosos de quem frequentava a minha casa.

Foi assim nos primeiros anos de adolescência, evoluindo no tipo de caderno onde escrevia. As folhas perfumadas foram sendo substituídas pelas brancas e pautadas de cadernos de capa negra, até aos dias de hoje. Com pausas em alguns momentos da minha vida, mas regressando sempre à caneta e ao papel, onde me permitia dizer o que pensava e sentia.

Nos últimos anos, a minha relação com os diários estruturou-se. Escrevo todos os dias com intenção, com uma linha condutora da atividade. E na verdade, sinto uma verdadeira mudança com este pequeno hábito. Há tanto a acontecer nas nossas vidas que este pequeno momento de paragem e reflexão, permite preparar-me para o meu dia e refletir sobre tudo o que aconteceu.

Sou uma ávida utilizadora e defensora do journaling, não só porque ali encontro sempre tempo e espaço para desabafos, reflexões e compromissos, mas também para praticar algo que realmente pode mudar a nossa perceção dos dias: a gratidão.

Todos os dias, de manhã, reservo 2 minutos para escrever no meu caderno (ou journal):

  • Algo pela qual me sinto grata
  • Qual a minha maior intenção para aquele dia: pode ser uma tarefa, pode ser um comportamento (dizer “sim”, dizer “não”, fazer mais pausas, alimentar-me bem…), escrevo algo que me programe para seguir aquela intenção. O objetivo não é culpar-me quando a vida acontece e nada corre como esperado, mas sim ativar um pequeno sensor que me mantém atenta ao longo do dia.

À noite, regresso ao meu caderno e escrevo:

  • O que correu bem no meu dia?
  • O que foi importante, o que me incomodou, o que quero recordar, o que quero “deitar cá para fora”?
  • O que posso fazer diferente amanhã?

Este pequeno ritual permite-me várias coisas:

  • A primeira é reprogramar o meu cérebro para um mindset positivo. O ser humano tem um viés de negatividade, ou seja, foca-se mais depressa nas coisas negativas do que nas positivas. Para o contrariarmos é importante treinarmos a nossa positividade, identificando coisas pelas quais estamos gratos, podendo ser algo tão simples como “acordar”, “respirar”, ou “a minha família”, “o meu trabalho”, “o café que me soube tão bem”. Pode parecer um ato insignificante, mas já existem vários estudos científicos que validam o seu impacto na saúde mental, física e social.
  • A segunda é sentir que estou a evoluir, a concretizar. Até podemos não conseguir cumprir com a nossa intenção mas, eventualmente, isso poderá acontecer. E nós teremos plena noção disso.
  • A terceira é refletir sobre o que aconteceu, sobre o que penso, sobre o que sinto. Isto permite-nos desenvolver uma certa distância do que nos acontece, do que pensamos ou sentimos. Porque nós não somos o que nos acontece, o que pensamos ou sentimos. Mas podemos mudar todas estas coisas, seja através de reflexão sobre os nossos comportamentos, sobre os nossos pensamentos imediatos e automáticos, ou sobre a maneira como sentimos tudo isso.

Então o meu convite para ti hoje é este: sabes aquele caderno vazio que tens em casa e nunca utilizaste? Porque não o utilizas já hoje para fazer o teu journaling e mudar o teu dia-a-dia?

Aceitas este convite?

Desejo-te boas reflexões.

Até já,

Olga

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