Hoje é feriado em Portugal. Dia da Restauração da Independência. Também é Domingo.
É chato quando um feriado calha num domingo. Sabe a aniversário em dia de Natal.
Para muitos, domingo é sinónimo de mais tempo livre. Para outros, o dia de resgatar a árvore e as decorações de Natal da arrecadação.
Mas também existem muitos outros que não têm essa oportunidade de desfrutar do dia para fazerem o que lhes apetecer. Até porque é Dezembro e o trabalho precisa de ser feito. Tudo se avoluma nesta altura do ano: as ofertas, a afluência às lojas, as visitas às urgências médicas, os projetos que não se concretizaram nos onze meses anteriores. É fácil perder o equilíbrio, sentir o adensar da ansiedade, seja no trânsito, na fila para pagar, na discussão sobre onde será a consoada deste ano.
Dezembro é, só por si, um mês de reflexão. Quanto mais não seja pelo frio que começa a fazer-se sentir, pelos inúmeros apelos ao consumo, pela combinação de sentimentos que se vão aflorando com o passar dos dias.
As recordações de alguém que não estará presente na mesa de Natal. A perplexidade com que olhamos para os onze meses que passaram a correr ou tão devagar. Os reencontros com amigos que não vemos as vezes que queríamos ter visto. A lareira acesa, a iluminação das cidades, os dias curtos cujo breu parece instalar-se na vida.
Este dia tem uma importância especial para mim. Quando era mais pequenina, o único calendário do advento que conhecia era o das janelinhas com pequenos chocolates de leite. O entusiasmo com que eu esperava, fielmente, pelo dia 1 para abrir a respetiva janela e degustar aquele pequeno deleite para a alma.
Pois bem. Embora seja uma apaixonada por chocolates e ter ficado surpreendida com a enorme quantidade de calendários do advento diferentes à venda nas lojas, este ano resolvi criar o meu próprio calendário. E não tem chocolates. Mas nada é suficientemente bom se não for partilhado.
Nos próximos 24 dias irei partilhar por aqui algumas das minhas reflexões. Mas não será apenas uma partilha – será também um convite à ação. Uma espécie de calendário de pequenos desafios cujo objetivo será aquele que todos nós procuramos: fazer por viver mais feliz e mais equilibrado.
E hoje, neste dia em que muitos terão mais tempo, ou a oportunidade de conexão com o outro, a minha reflexão é sobre a solidão. Essa que nos emociona particularmente nesta época. Quantos filmes natalícios ou vídeos publicitários falam sobre isso?
Vários estudos indicam que o isolamento social é um fator de risco para o aumento da mortalidade por todas as causas.1 Por outro lado, a conexão social forte está associada a uma melhor função cognitiva e menor depressão.2
Mas não é preciso ler ciência. Todos nós o sabemos. Em algum dia das nossas vidas já sentimos as consequências de estarmos “sozinhos”.
Quantos de nós adiamos encontros significativos com amigos, familiares por “não termos tempo”? Quantas vezes não estamos, inteiros, com os nossos filhos porque é domingo e é preciso organizar a semana? E as horas que ficamos nas redes sociais digitais, a ver as fotos de outros com quem não falamos há meses ou até anos? Será por falta de tempo ou porque pensamos que um dia teremos tempo? Que garantia temos de que em breve estaremos com aquela pessoa?
A única e melhor garantia que temos é que não temos garantia de nada.
Por isso, aproveitemos esse nível de consciência para mudar isso hoje. Um dia de cada vez. Um telefonema, uma mensagem, um encontro, um café, um jantar, um jogo de tabuleiro, um passeio. Um convite para a próxima semana. Uma companhia para uma caminhada. O único requisito é a conexão verdadeira e inteira com o outro. Pode ser um amigo, um familiar ou mesmo alguém que viva contigo, mas com quem não tenhas tido oportunidade para estar verdadeiramente.

Aceitas este convite?
Desejo-te boas conexões.
Até já,
Olga
- Naito R, McKee M, Leong D, et al. Social isolation as a risk factor for all-cause mortality: Systematic review and meta-analysis of cohort studies. PLoS One. 2023;18(1):e0280308. Published 2023 Jan 12. doi:10.1371/journal.pone.0280308 ↩︎
- Holt-Lunstad J. Social connection as a critical factor for mental and physical health: evidence, trends, challenges, and future implications. World Psychiatry. 2024;23(3):312-332. doi:10.1002/wps.21224 ↩︎